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Tradições ancestrais do Solstício de Inverno ganham nova vida

21 Janeiro 2015

05-01-2015| LUXEMBURGUER WORT

Algumas figuras associadas às “tradições ancestrais” do Solstício de inverno na região transmontana, que tinham caído no esquecimento há um século, estão a ser recuperadas por investigadores da área, apoiados pelas populações e pelas autarquias.

“As populações começam a ganhar cada vez mais consciência da riqueza das suas tradições e, assim, começam a lançar figuras e mascarados que já estavam esquecidos há cerca de uma centena de anos”, disse à hoje à agência Lusa o investigador Antero Neto.

Regista-se, por exemplo, o relançamento na aldeia de São Pedro da Silva, concelho de Miranda do Douro, do “Bielho e la Galdrapa” – expressão em idioma mirandês que, traduzida para português, significa “o Velho e a Galderia”.

Já na aldeia de Valverde, esta no concelho de Mogadouro, foi apresentado o Careto e o Velho.

Para o próximo ano está prometido o lançamento das figuras “Mascarão e Mascarinha”, na aldeia de Vilarinhos dos Galegos, também no concelho de Mogadouro.

Segundo o presidente da câmara de Mogadouro, Francisco Guimarães, estes rituais do Solstício de inverno na região, enriquecidos com as figuras entretanto recuperadas ou em vias de recuperação, imprimem uma nova dinâmica turística e cultural ao concelho.

“Temos de nos preocupar com valorização deste tipo de tradições. O património imaterial do concelho de Mogadouro é riquíssimo e, por isso, temos de o preservar”, frisou o autarca.

O nordeste transmontano vive, nesta altura do ano, um período “mágico” com as festas dos mascarados que saem à rua durante 12 dias e que deixam investigadores intrigados e populações numa espécie de alvoroço.

“Estes rituais do solstício de inverno são manifestações populares, onde se juntam o sagrado e o profano, as duas principais componentes destes atos festivos que surgem de forma muito ‘sui generis’. São rituais diferenciados de aldeia para aldeia”, explicou à agência Lusa o presidente da Academia da Máscara Ibérica, António Tiza.

Segundo o investigador, estes rituais, envolvendo figuras “demónicas e pantomineiras mascaradas”, encarnam ritos de “fecundidade e abundância”.

Na vertente sagrada, alguns dos cultos são dedicados aos santos, outros a Jesus Cristo, no seu nascimento e na adoração pelos reis Magos.

Com um cariz mais pagão, são celebrados rituais semelhantes em honra dos deuses, do sol à natureza, tudo num espaço único, que é a rua ou a praça pública.

O Carocho de Constantim e a Velha de Vila Chã (Miranda do Douro), os Velhos em Bruçó, o Farandulo de Tó ou o Chocalheiro de Bemposta (Mogadouro), bem como os Caretos (Podense), são apenas alguns dos rituais “ainda carregados da sua pureza original”, que até ao dia de Reis animam as agora gélidas terras transmontanas.

“Estes rituais chegaram aos nossos tempos carregados de simbologia, embora no passado tenham sido perseguidos pela Igreja, chegando mesmo a serem proibidos em algumas localidades. A vontade popular falou mais alto e continuam a animar a quadra natalícia transmontana”, explicou António Tiza.

“Únicos em território nacional”, estes rituais despertam cada vez mais a atenção de investigadores de Espanha, França, Inglaterra e outros países europeus que, ano após ano, se deslocam às aldeias nordestinas para perceberem o significado de tais manifestações de raiz popular.

“No entanto, houve aldeias que as deixaram cair estes rituais no esquecimento. Agora, com base em testemunhos escritos, tenta-se reanimar um legado que faz parte da herança da presença das comunidades celtas na região transmontana”, frisou Antero Neto.

Se no passado estas festividades estavam “estritamente” reservadas aos homens, com o despovoamento do Interior, as populações começaram a introduzir algumas mudanças nos rituais para os manter vivos, pelo que as mulheres começam a ocupar um lugar de destaque.